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CICLONE BOMBA SE FORMARÁ NO ATLÂNTICO COM MENOR IMPACTO NO BRASIL
18/08/2023 13:56 em tempo

Ciclonênese explosiva entre hoje e amanhã nas latitudes do Uruguai e Argentina dará origem a uma bomba meteorológica no Atlântico

Ciclone bomba se formará entre hoje e amanhã no Atlântico Sul com a intensificação muito rápida de uma área de baixa pressão que se desloca do Sudeste do Rio Grande do Sul para o litoral da Argentina. O sistema impactará as condições do tempo no Uruguai, Argentina e no Brasil e seus maiores efeitos serão sentidos sobre o oceano e áreas continentais mais ao Sul.

Ciclones extratropicais são absolutamente normais e frequentes no Atlântico Sul. Embora as pessoas estejam impressionadas com o noticiário de tantos ciclones, eles estão quase sempre presentes no Atlântico, especialmente mais ao Sul, na costa da Argentina.

Dois sistemas, um que se formou junto à costa gaúcha em junho e outro que se originou sobre o Rio Grande do Sul em julho, com enormes impactos e 24 mortes no território brasileiro (sendo 19 no estado gaúcho), acabaram por induzir a ideia que haveria mais ciclones neste ano, o que não necessariamente é verdade. Alguns destes ciclones que atuam no Atlântico Sul passam por um processo de intensificação muito rápida e são classificados de bomba ou de bomba meteorológica. Será o caso do sistema que se forma entre hoje e amanhã.

A ciclogênese explosiva se dará centenas de quilômetros ao Sul do Rio Grande do Sul sobre o Atlântico e os reflexos em vento e precipitação associados à circulação do vórtice do ciclone tendem a se dar em áreas perto da costa de países vizinhos ao Sul, no caso a Argentina e o Uruguai. O CAMINHO DO CICLONE Uma área de baixa pressão alongada deve começar a se aprofundar muito nesta sexta-feira entre a costa da província de Buenos Aires, a foz do Rio da Prata e o Sudeste do Rio Grande do Sul. Ao longo desta sexta, com o aprofundamento da baixa, começa a se formar um ciclone extratropical. Amanhã, em situação muito interessante, o ciclone vai ter dois centros de menor pressão, dois vórtices, o principal e um secundário na costa de Buenos Aires, à medida que se intensifica sobre o Oceano Atlântico. No fim do dia, os dois vórtices vão se converter em apenas um e bastante profundo.

No domingo, o ciclone vai ficar quase estacionária sobre o Atlântico Sul nas coordenadas 42ºS e 50ºW com grande intensidade, apresentando pressão atmosférica central mínima de até 975 hPa, portanto sendo um sistema intenso sobre o mar. Na segunda-feira, o ciclone extratropical se afasta e enfraquece à medida que se espera uma redução do diferencial de pressão atmosférica com a formação de um segundo ciclone que vai atuar junto à costa da Patagônia. Assim, o grande aprofundamento do centro de baixa pressão vai se dar mais ao Sul e longe do Rio Grande do Sul com a máxima intensidade do ciclone ocorrendo mais de mil quilômetros ao Sul de Porto Alegre.  Da mesma forma, o sistema vai ficar quase estacionária e se afastar para Leste, jamais se aproximando do Sul do Brasil na sua fase madura. O QUE É UM CICLONE BOMBA Um ciclone bomba ou bomba meteorológica ocorre quando um ciclone nas latitudes médias se intensifica rapidamente” com a queda muito acentuada da pressão atmosférica e um fortalecimento muito rápido da tempestade. A chamada bombogênese ou ciclogênese explosiva, a formação do ciclone bomba, se dá quando um centro de baixa pressão tem uma queda da pressão atmosférica de ao menos 24 hPa (hectopascais que é uma medida de pressão) em 24 horas.

Assim, não é a intensidade que define um ciclone bomba e sim a rápida queda da pressão em seu centro. Algumas tempestades extratropicais podem se intensificar tão rapidamente quanto 60 hPa em 24 horas e alguns ciclones do tipo bomba chegam a formar um olho, semelhantes ao centro de um furacão que é um ciclone tropical. Por que este ciclone que se forma entre hoje e amanhã será uma bomba meteorológica sobre o Atlântico? Justamente pela sua muito rápida intensificação que vai ser de ao menos 24 hPa em 24 horas. Observe pela projeção do modelo europeu que o centro de baixa pressão a Sudeste do Rio Grande do Sul no final desta sexta, no início da ciclogênese terá pressão central de 998 hPa. No final do sábado, 24 horas depois, a baixa pressão com um ciclone já maduro e configurado mais ao Sul terá pressão central de 972 hPa, logo 26 hPa a menos que no mesmo horário no dia anterior.

Um ciclone (seja tempestade não tropical ou tropical) é essencialmente uma gigantesca coluna de ar ascendente que gira no sentido horário sobre o Hemisfério Sul. Quando uma corrente de jato mais intensa se sobrepõe a um sistema de baixa pressão em superfície em desenvolvimento, estabelece-se um padrão de feedback que faz o ar quente subir a uma taxa crescente. Isso permite que a pressão caia rapidamente no centro do sistema. À medida que a pressão cai rapidamente, os ventos se fortalecem ao redor da tempestade. Na prática, a atmosfera tenta equilibrar as diferenças de pressão atmosférica entre o centro do sistema e a área ao seu redor. O enorme gradiente (diferença) de pressão acaba por gerar o vento muito forte. A GRANDE DIFERENÇA PARA O CICLONE BOMBA DE 2020 Entre os dias 30 de junho de 2020 e 1º de julho de 2020 o Sul do Brasil experimentou um dos mais episódios graves de tempo severo da sua história com um ciclone bomba que se formou no Atlântico Sul. O fenômeno deixou 13 mortos, sendo onze em Santa Catarina, uma no Paraná e uma no Rio Grande do Sul, saldo de vítimas superior ao do furacão Catarina de 2004 e muito raramente ocorre num evento de tempestade na parte meridional do Brasil. O impacto na rede elétrica do Sul do Brasil foi sem precedentes em danos. O centro de baixa pressão que deu origem ao ciclone bomba avançou do Norte da Argentina para o Uruguai e o Rio Grande do Sul entre os dias 29 e 30 de junho de 2020, causando chuva forte e temporais com volumes muito altos de precipitação que somados ao de um segundo ciclone uma semana depois resultaria em grandes enchentes no Rio Grande do Sul. O Rio Taquari, com a chuva dos dois ciclones, passou por uma das três maiores cheias em 150 anos e o Guaíba em Porto Alegre teve uma das maiores cheias desde a grande enchente de 1941. Em 1 de julho de 2020, o ciclone já estava sobre o Oceano Atlântico a Sudeste do Rio Grande do Sul. Foi sobre o Atlântico que o centro de baixa pressão se tornou um ciclone na sua fase madura e adquiriu característica de ciclone bomba, ou seja, com a queda da pressão atmosférica mínima central de ao menos 24 hPa em um intervalo de 24 horas. Assim, quando o centro de baixa pressão estava sobre a área continental o sistema ainda não era um ciclone bomba. Isso somente veio a ocorrer uma vez que a área de baixa pressão atingiu o oceano. A enorme diferença deste ciclone bomba de agosto de 2023 para o do começo de julho de 2020 é o posicionamento. Os impactos foram enormes no Sul do Brasil dois anos atrás porque a ciclogênese explosiva se deu muito perto da região, a Sudeste do Chuí.

Desta vez, a bomba meteorológica vai se atuar a uma grande distância da parte meridional do território brasileiro, o que não significa que deixará de impactar as condições meteorológicas no Sul do país. O campo de vento muito intenso vai tangenciar o Sul do Brasil e ficar essencialmente em alto mar. IMPACTO MAIOR NO URUGUAI E ARGENTINA Os impactos mais fortes deste ciclone extratropical devem ser sentidos na costa atlântica da província de Buenos Aires e no Uruguai, que terão um fim de semana bastante ventoso, embora sejam previstos efeitos do sistema no Sul do Brasil tanto na atmosfera quanto no mar. A costa de Buenos Aires deve sofrer com os ventos mais fortes deste sistema pela presença de um vórtice secundário do ciclone junto ao litoral. As áreas de Mar del Plata, Miramar e Necochea deve ser as mais afetadas com rajadas em pontos da costa perto ou acima de 100 km/h, sobretudo neste sábado. A cidade de Buenos Aires terá também tempo ventoso no sábado com rajadas que podem passar dos 60 km/h ou 70 km/h. No Uruguai, a influência do ciclone será maior em cidades perto do Rio da Prata e do oceano, no Sul e no Leste do país. Em Montevidéu, o vento se intensifica nesta sexta e atinge seu pico no sábado com rajadas de 60 km/h a 70 km/h. Os departamentos uruguaios mais afetados pelo vento devem ser Colonia, Montevidéu, San José, Canelones, Maldonado e Rocha. Maldonado, em particular, deve ser o departamento com mais vento com rajadas que na área de Punta del Este podem ficar entre 70 km/h e 90 km/h. Rocha deve ter vento mais forte no Sul do departamento. Com isso, o vento forte a muito intenso pode trazer transtornos e alguns danos na Argentina e Uruguai, especialmente no sábado, embora ainda vente forte no começo do domingo. Há risco de queda de árvores, alguns danos estruturais e cortes de energia elétrica, especialmente em áreas costeiras. As águas do Rio da Prata devem ficar muito agitadas. OS EFEITOS DESTE CICLONE NO BRASIL SERÃO MENORES Os efeitos deste ciclone em termos de vento não devem ser significativos no Rio Grande do Sul. O Litoral Sul, especialmente entre o Chuí e Rio Grande, deve ter as rajadas fortes, em média de 50 km/h a 70 km/h. Isoladamente, o vento pode atingir velocidades maiores. Mais ao Norte, pela maior distância do campo de vento intenso, não são esperadas rajadas de vento intensas. Por isso, Porto Alegre e o Litoral Norte terão tempo ventoso no final da sexta e no fim de semana, sobretudo no sábado, mas as rajadas não devem ser suficientemente fortes para causar maiores problemas. Tampouco se espera vento intenso associado ao ciclone em Santa Catarina, Paraná ou no Sudeste.

O que vai mexer com o tempo no Centro-Sul do Brasil – e não deixa de ser relevante – será a frente fria associada ao ciclone que vai trazer chuva para os três estados do Sul até amanhã e levará a instabilidade mais ao Norte até o Centro-Oeste e o Sudeste. Algumas cidades do Brasil Central, que não registram chuva há semanas, podem ter precipitação. No deslocamento da frente fria, com ar muito quente na dianteira, há condições de tempo severo com tempestades isoladas de vento e granizo.

Por outro lado, o campo de vento muito intenso sobre o mar no Atlântico Sul será bastante extenso e o ciclone deve permanecer quase estacionário a Leste da Argentina por cerca de 24 a 30 horas. Isso vai gerar uma grande agitação marítima e swell que deve alcançar a costa do Rio Grande do Sul com provável ressaca do mar na costa gaúcha no fim de semana e no início da semana que vem. Em alto mar, longe da costa, conforme alertas de mar grosso da Marinha do Brasil, as ondas podem passar de sete metros. Perto do centro do ciclone, modelos de ondas indicam vagas de até 33 pés (10 metros).

FONTE SOBRE O AUTOR Estael Sias Estael Sias, MSc., é autora de MetSul.com e meteorologista formada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Mestre em Meteorologia pela Universidade de São Paulo (USP). Sócia-diretora da MetSul Meteorologia com passagem pelo Grupo RBS, Canal Rural e Defesa Civil de São Paulo.

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